sexta-feira, 26 de junho de 2009

All the invisible children

Autor do livro ‘Cabeça de Porco’, escrito em parceria com o rapper MV Bill e o produtor Celso Athayde, o antropólogo Luiz Eduardo Soares disse durante lançamento do estudo em 2005 que “um negro caminhando pelas ruas de uma grande cidade é um ser socialmente invisível”. O próprio MV Bill admitiu que muitas vezes se sentiu assim antes de fazer sucesso como rapper e posteriormente como escritor e documentarista.

O mesmo conceito de invisibilidade é tema do longa-metragem ‘All the Invisible Children' (‘Crianças Invisíveis’), lançado em 2005 durante o Festival de Veneza e que somente na última sexta-feira, 31, chegou aos cinemas do Brasil. O filme reúne sete curtas-metragens realizados no Brasil, Itália, Inglaterra, Sérvia e Montenegro, Burkina Faso, China e Estados Unidos, dirigidos por cineastas consagrados como o chinês John Woo, o inglês Ridley Scott, o americano Spike Lee, o iugoslavo Emir Kusturica e a brasileira Kátia Lund.

O objetivo do projeto é chamar a atenção de governos e sociedade civil para os milhares de crianças e adolescentes excluídos e invisíveis do mundo: jovens afetados pelo HIV; jovens que vivem sem suas famílias; jovens que participam de confrontos armados, jovens discriminados por fatores raciais ou étnicos.

“Acredito que o cinema pode contribuir com muito mais para um mundo melhor do que apenas diversão”, disse a italiana Chiara Tilesi, coordenador geral do projeto, que obteve apoio da Unicef e ONU/FAO.

Chiara contou ainda com a preciosa colaboração de Maria Grazia Cucinotta, atriz que fez sucesso mundial em ‘O Carteiro e o poeta’ e teve papel decisivo ao convidar alguns dos diretores envolvidos no projeto.

“Um dos grandes atrativos de fazer o filme foi que os diretores tiveram liberdade criativa total para criar o roteiro e filmar”, disse Kátia Lund, que ganhou projeção internacional em 2002 ao dirigir ao lado de Fernando Meirelles o premiadíssimo ‘Cidade de Deus’.

Armas e granadas como presente

Os sete filmes mostram - às vezes de maneira lúdica às vezes direta - como se dá no mundo a interseção entre exclusão, pobreza e preconceito na vida de uma criança. Diretor de ‘Tanza’, Medhi Charefs escolheu focar seu roteiro na história de uma criança-soldado de apenas 12 anos. O curta foi filmado em Burkina Faso e fala sobre as lembranças de um jovem que pensava que estar numa guerra era como ganhar um presente.

“Essas crianças vão para guerra muito cedo, a grande maioria nunca comemorou um aniversário. Para elas, ganhar armas e granadas é como ganhar um presente”, compara Medhi.

Catadores de lixo

Considerado um dos melhores e mais emocionantes episódios do filme, ‘Bilu e João’, da brasileira Kátia Lund, mostra o cotidiano de uma menina e um menino que coletam materiais nos lixos de São Paulo.

“Essas não são crianças invisíveis no sentido estrito, porque estão presentes nas janelas dos nossos carros, mas são invisíveis porque, às vezes, preferimos vê-las, mas não enxergá-las”, afirma a representante do Unicef no Brasil, Marie-Pierre Poirier.

Kátia Lund conta que conheceu durante suas andanças por favelas do Brasil diversos ‘Bilu e João’. “Mas a pergunta que não sai da minha cabeça é o que acontece daqui a uns anos quando essas crianças perceberem que não têm chance, que ficaram sem casa, sem espaço. E quando descobrirem que estão fora desse mundo, vão reagir de forma violenta. Quando não damos espaço pra todo mundo crescer, estamos também semeando o ódio”, diz.

Os demais curtas de ‘Crianças Invisíveis’ são: ‘Jesus Children of America’, do americano Spike Lee, ‘Song Song &Little Cat’, do super-premiado diretor chinês, John Woo; ‘Ciro’, do italiano Stefano Veneruso; e ‘Jonathan’, do inglês Ridley Scott.

Metas do Milênio

Na matéria sobre o filme divulgada em seu site, a Unicef afirma que as crianças invisíveis do Brasil hoje são “as 500 mil meninas e meninos que nascem todos os anos e não têm acesso ao registro civil; as cerca de 10 milhões de crianças e adolescentes que vivem no Semi-árido em situação de pobreza; as quase 3 milhões de crianças que são exploradas no trabalho infantil; as crianças negras, mais afetadas pela pobreza, pela falta de acesso à escola e pela discriminação, os adolescentes envolvidos no tráfico de drogas; as crianças indígenas, que vivem em comunidades onde a taxa de mortalidade infantil é três vezes maior do que a média nacional”.

Segundo a Unicef, ações simples dos governos poderiam, por exemplo, fazer com que, 300 milhões de crianças deixassem de ser excluídas do direito ao acesso à água limpa em todo o mundo; e 115 milhões de crianças hoje excluídas do direito à educação estivessem na escola. Metas como essas fazem parte dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que 191 países, inclusive o Brasil, comprometeram-se a cumprir até o ano de 2015.

Fontes: The Guardian, www.alltheinvisiblechildrenmovie.com, www.otempo.com.br, ONU/FAO ; Unicef Brasil

Autor: desconhecido Fonte: http://www.comunidadesegura.org/pt-br/node/11546


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